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Foto do escritorAna Paula Moscoso

Terra Balda - Mariana Zacaron





"Porque, às vezes, eu acho que você esquece que eu te conheço. Você pode ter se tornado uma versão mais amarga, menos esperançosa de si mesmo, mas você ainda é você e eu ainda sou eu."

Na cidade de Terra Balda, Debri e Memphis coexistem num frágil equilíbrio. Apesar dos interesses mútuos, os segredos e as cicatrizes carregadas pelos dois não deixam espaço para que os "governantes" - entre muitas, muitas aspas - do território conseguiam ter uma conversa inteira sem que ela termine em farpas, acusações ou ameaças.


Entretanto, há um antes e um depois na vida dos protagonistas. E com capítulos intercalados entre presente e passado, Mariana Zacaron desenvolve essa história nos mínimos detalhes.


Seis anos antes, Déborah, filha de um Capitão da Guarda Alva, conheceu Memphis. Cansada da alta sociedade que acompanhava sua mãe e os dias no Quartel-General, a garota encontra em Memphis uma dose da normalidade que tanto ansiava. Uma pessoa que não tinha nenhuma expectativa sobre ela e, ao mesmo tempo, não a tratava com a aversão costumeira que os habitantes da cidade apresentavam a qualquer coisa relacionada à Guarda Alva.


Se apaixonar foi fácil para ambos e o relacionamento do casal era tão bonitinho e, a princípio, tão fácil, que chegou um determinado momento que eu simplesmente não queria mais ler sobre o antes. Continuar foi uma decisão quase masoquista porque o depois não é nada legal para nós românticas.


Então, fica o aviso: essa não é uma história de amor.


Três anos antes, quando cada um já havia seguido seu caminho, uma grande catástrofe atinge a cidade, mas Déborah e Memphis saem ilesos. Unindo forças por breves, breves, momentos, os dois conseguem expulsar a Guarda Alva e retornar ao povo o controle de suas vidas.


Terra Balda foi, por um lado, uma leitura bem fácil. A distopia de Mariana Zacaron tem um bom ritmo e a escrita da autora faz com que as 500 páginas passem voando. Em contrapartida, seus personagens são desafiantes. Digo isso como um elogio, pois a construção de Déborah e Memphis é sensacional, realmente não há do que se reclamar, mas eles - em especial o Memphis dos dias atuais - exigem do leitor uma dose de empatia que, confesso, me escapou em muitos momentos.


Ambos passaram por muitas tragédias, mas, sem sombra de dúvidas, foi Memphis o mais afetado. Ele perdeu muitas pessoas, ele viu muitas coisas e isso transformou o rapaz sorridente, gentil e amoroso do passado num homem bem difícil de lidar. Além disso, como a narrativa é bastante focada no relacionamento - amoroso ou não - dele e da Debri, chega a ser meio sufocante perceber a quantidade de mágoa que ele guarda dela e das escolhas que ela fez.


Os capítulos focados na reaproximação forçada dos protagonistas são como uma grande nuvem de tensão com muitos poucos momentos de alívio. Quando eles percebem que não podem mais ignorar o grande segredo que guardam do restante de seus amigos, a realização de só ter um ao outro é como um peso na relação já fragilizada e a reconstrução não é fácil. Terra Balda é uma distopia completa em todos os sentidos, o desenvolvimento é fantástico e os personagens nos levam do céu ao inferno em poucas páginas. A decisão da autora de alternar entre presente e passado potencializa os efeitos que os acontecimentos têm durante a leitura e não deixa espaço para o leitor pensar em deixar a história de lado.


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