"Mas, às vezes, acho que Deus me deu uma bênção muito maior do que eu posso suportar."
Aviso de Conteúdo: Este livro contém cenas gráficas, violência, abuso, homofobia, body horror e terror sobrenatural e psicológico.
A primeira vez que eu vi a capa do lançamento do Igor Fonseca o pensamento que veio a minha cabeça foi: esse livro tem que ser muito bom. E ele é muito bom. Mas é igualmente perturbador.
Daniel é um Padre prodígio. Aos 24 anos ele se encaminha para a cidade de Ouro Preto para assumir seus deveres no lugar do Padre Diógenes, que pretende se aposentar assim que a transição de Daniel estiver completa. Enquanto conhece sua nova casa, o protagonista percebe o menino Anael brincando nas escadas da igreja na companhia da irmã mais velha e da mãe e não demora para que a proximidade da família com o Padre Diógenes chame sua atenção.
Em Pai Nosso, Igor Fonseca brinca muito com a nossa cabeça. Utilizando de narradores confiáveis e não confiáveis, ele faz o leitor duvidar dos seus próprios julgamentos. E são tantas camadas que não é fácil colocar em palavras sem dar spoiler, mas ainda assim fazer uma avaliação satisfatória. Mas farei o meu melhor.
O começo de Pai Nosso nos entrega um Daniel radiante, cheio de esperanças, cheio de fé, um jovem adulto que ama sua vocação e mal pode esperar para colocar em prática aqueles anos de aprendizagem. Daniel crê. Ele crê não apenas em Deus, mas também na Igreja e na bondade dos homens. Ele não teve uma vida fácil. Sempre quis ser Padre, mas seu pai não aprovava isso e não aprovava seu jeito. Ao leitor também é confidenciado que ele cometeu um grande pecado, mas que, apesar disso, ele está confiante de que sua vida dali para frente será diferente.
É impossível não gostar de Daniel. Ele é fofo. Ele acredita na mudança. É o "bom Padre". Ao mesmo tempo, é meio difícil não desconfiar do Padre Diógenes. Carrancudo, parece ter muitos segredos e parece extremamente próximo a Anael e sua família. Além disso, Daniel não confia no seu superior e não gosta que o menino fique sozinho com ele. Ele quer proteger Anael já que não pôde proteger uma criança do seu passado.
Entretanto, preciso lembrar que o autor adora brincar com as nossas impressões. E o desenvolvimento dessa obra traz revelações assustadoras.
Pai Nosso é sobre a culpa cristã. E ela não é nada misericordiosa. Segredos, pecados, cicatrizes, tudo isso a alimenta de maneira a deixar qualquer homem louco em busca de uma salvação através de atos desesperados.
O terror psicológico construído por Igor é tão bem feito e quando ele junta com cenas gráficas dá uma vontade de você sair gritando... É simplesmente perfeito. O livro trata de temáticas bem pesadas, não alivia, a ambientação não poderia ser mais adequada para que o autor entregue um horror gótico de alta qualidade. O ato final foi uma das coisas mais perturbadoras que eu já li e nem foi pelos elementos gráficos, mas principalmente pelas palavras e por quem as profere. É uma cena muito, muito boa.
O desfecho não poderia ser mais satisfatório, mas que ele não perca a graça, não posso comentar muito além, apenas implorar para que leiam, leiam Pai Nosso e sintam a culpa e os demônios sobre vocês também!
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